25 de set. de 2006

A Arte de Ser Feliz



Houve um tempo em que minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé
brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco.
Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo
parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa, e sentia-me
completamente feliz.

Houve um tempo em que minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco.
Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que
jarra, em que sala, diante de quem brilhariam na sua breve existência? Que mãos as
tinham criado? Que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais
criança, porém minha alma ficava completamente feliz.
Houve um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de
giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem,
de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre
homem com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as
plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não
morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam
de seus dedos magros, e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens
espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos
que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas,
como refletidas no espelho do ar. Às vezes um galo canta. Às vezes um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente
feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada
janela, uns dizem que essas coisas não existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

(Cecília Meireles)

A Pedra





Pedra

O distraído nela tropeçou,

O bruto a usou como projétil,
O empreendedor, usando-a 
construiu,O camponês, cansado da lida, dela fez assento,
Para os meninos foi brinquedo,Drummond a poetizou,
Com ela Davi matou Golias...
O artista concebeu a mais bela escultura.
Em todos os casos, a diferença não era a pedra, 
mas sim o homem.

O tio Tonico

Meu tio Tonico estava bem de saúde,até que sua esposa, minha tia Marocas, disse: -Tonico, você vai fazer 70 anos, está na hora de fazer um ...